Hipócrates escreveu há mais de 2.400 anos que o jejum pode prevenir ou diminuir a gravidade da epilepsia, um distúrbio que ele chamou de “a doença sagrada”. Seria o começo de uma observação que ainda temos muito a descobrir. Que o Jejum feito de forma intervalada, pode nos trazer benefícios, ninguém duvida mais. A grande questão é: qual é a melhor maneira e quais são seus benefícios?
Primeiro, o jejum faz nosso corpo ativar inúmeros eventos. Assim que iniciamos um período de jejum, o estoque de glicogênio no fígado é utilizado como combustível. Até neste ponto não temos muitas mudanças metabólicas. Após 10-14h em repouso, nosso estoque de glicogênio vai se depletando e o sábio templo tem a brilhante ideia de utilizar outro combustível, principalmente órgãos mais importantes, como por exemplo, o cérebro.
Então é onde iniciamos um outro modo de funcionamento. O cérebro passa a ser alimentado por corpos cetônicos, derivados da quebra dos nossos estoques de gordura que viram ácidos graxos. Tanto os neurônios passam a utilizá-los como as células ao seu redor que participam do metabolismo cerebral.
Uma série de hormônios e cascatas de reações iniciam, o corpo entra em um modo de alerta ou eficiência, o combustível do cérebro passa a ser outro. O organismo não pode perder energia e foco com coisas desnecessárias. Nossas bactérias boas, ou melhor, as que colaboram com nossa saúde são priorizadas. Inflamações desnecessárias são suprimidas. A autofagia, processo essencial de garantia de qualidade das células, onde células e organelas são destruídas, como um processo de reciclagem celular acontece em vigência do jejum, principalmente no cérebro. A falta ou disfunção do processo da autofagia pode levar a várias doenças degenerativas e malignas, e o seu estímulo com o jejum parece ser muito benéfico ao organismo.
Alguns benefícios:
1- Melhora do metabolismo.
2- Melhora do perfil lipídico (diminuição do LDL).
3- Emagrecimento.
4- Estímulo da autofagia.
5- Favorecimento da flora bacteriana boa.
6- Melhora da cognição e processos metabólicos cerebrais.
7- Torna nossa sensibilidade mais sutil, ideal para práticas contemplativas, meditação etc.
8- Aumento da biogênese mitocondrial e a tolerância ao estresse das mitocôndrias.
Durante a evolução, os indivíduos cujos cérebros e corpos funcionavam bem em jejum obtinham sucesso na aquisição de alimentos, possibilitando sua sobrevivência e reprodução. Com jejum e exercícios prolongados, os estoques de glicogênio hepático são esgotados e as cetonas são produzidas a partir de ácidos graxos derivados de células adiposas. Esta mudança metabólica na fonte de combustível celular é acompanhada por adaptações celulares e moleculares de redes neurais no cérebro que melhoram sua funcionalidade e reforçam sua resistência ao estresse, lesões e doenças.
Repetidos ciclos de um desafio metabólico que induz cetose (jejum e / ou exercício) seguido por um período de recuperação (alimentação, descanso e sono), pode otimizar a função cerebral e resiliência ao longo da vida. Essa troca metabólica afeta múltiplas vias de sinalização que promovem a neuroplasticidade e a resistência do cérebro a lesões e doenças. Desta maneira evoluímos e podemos reproduzir este cenário hoje de forma sábia, com intenção de usar o estresse do jejum a nosso favor.
O mais complexo do jejum é achar um ponto onde reside o limiar de hormese (isto é, um equilíbrio entre o benefício a longo prazo do jejum comparado com o dano proveniente da ingestão calórica insuficiente). A partir de um determinado ponto ele pode causar mais danos do que benefícios, este ponto provavelmente é distinto em cada um.
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