Eu quando criança sempre fui fissurado em animais: cachorros, tartarugas e lagartos, larva de besouro e até barata já foram meus bichos de estimação. Será que estamos comprometendo a saúde das crianças colocando animais em casa?
Há mais de 9.000 anos convivemos com os cachorros e evoluímos juntos. Até hoje temos dúvidas da relação riscos/benefícios do melhor amigo do homem. Vários fatores confundem até os estudos mais bem desenhados. Cães ou gatos? Qual raça? Quais são os cuidados com o bicho? Números de bichos em casa? Número de moradores? Cada casa é um exemplo de mil variáveis para um estudo com consistência.
Em grande parte dos estudos a exposição precoce na infância aos bichanos foi um fator de proteção contra sensibilização aos aeroalérgenos, ou seja, expor a criança cedo aos bichanos ajudaria a não ter sensibilidade mais pra frente na vida.
Alguns outros estudos sugerem exatamente o oposto, uma maior taxa de alergia aos expostos. De 9 revisões de literatura analisadas, 6 mostraram que a exposição perinatal, ou seja, pouco após a chegada da criança no mundo, protegem a criança contra doenças alérgicas mais para frente. 2 estudos mostraram que nas famílias com forte história de atopias ou alergias, o risco aumentou com a exposição aos bichanos. Em um outro estudo comparando crianças rurais e urbanas mostrou que a exposição aos animais na infância diminui o risco de rinite alérgica em 20%.
Em um cabo de guerra de observações positivas ou negativas, até agora não há evidências de que evitar os animais de estimação na infância diminua ou impeça o desenvolvimento de rinite alérgica ou a sensibilização a aeroalérgenos mais tarde na vida.
O que ficou claro neste levantamento foi que a sensibilização depende muito dos fatores individuais de cada um. Um fato novo que iremos aprofundar em breve é que a exposição aos animais modifica nossa flora bacteriana. Nas crianças isso pode modificar o desenvolvimento do seu sistema imune e inclusive ajudar na maturidade deste sistema, o que pode ser o fator que em muitos casos contribui para uma melhor proteção contra alergias.
Talvez algumas crianças que não conseguem ter este efeito benéfico acabam estimulando mais seu sistema imune e pioram da alergia.
Tudo leva a crer que a exposição inicial a animais de estimação pode induzir tolerância imunológica e reduzir a chance de desenvolvimento de doenças alérgicas em alguns casos. Este efeito protetor parece ser mais forte em famílias não alérgicas com exposição de cães na primeira infância.
Sugestões:
1) Pense em adotar seu cãozinho
2) Os benefícios de educar, alimentar e criar um cão ensina as crianças a ter um breve senso de responsabilidade
3) Converse com o pediatra do seu filho
4) Famílias muito alérgicas tenham muito cuidado, pesquisem e testem o convívio com outro cão de alguém antes de adotar ou comprar um
5) As observações sobre alergias sugerem que retirar todos os desencadeadores nem sempre é uma boa estratégia
6) Ainda esperamos maior controle e entendimento do nosso sistema imune e reações alérgicas na infância
7) Os benefícios de um bichano para uma criança urbana podem ir muito além do que imaginamos aos alérgicos, sugiro cuidado, regras e estratégias para não impedir um convívio com os animais
8) Teste na sua família o que acontece e observe, pois ainda não existe um consenso neste tema
9) Duvide de qualquer regra, nada melhor que sua experiência pessoal.
Curr Opin Allergy Clin Immunol. 2003 Dec;3(6):517-22.
Does exposure to dogs and cats in the first year of life influence the development of allergic sensitization?
Curr Opin Allergy Clin Immunol. 2003 Feb;3(1):7-14.
Early pet exposure: friend or foe?
F1000Res. 2016 Jan 27;5. pii: F1000 Faculty Rev-108. doi: 10.12688/f1000research.7044.1. eCollection 2016.
Recent Understandings of Pet Allergies.
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